Estagflação: será que estamos diante dela?

A estagflação é um dos maiores temores dos economistas e com a alta dos preços desse ano cresce o temor dessa realidade. O fenômeno, que preocupa e gera impactos negativos à sociedade, pode estar diante de nossos olhos. E isso não é bom.

Mas para entender isso, é preciso entender os mecanismos de controle de taxas de juros e as finanças do governo. Por partes!

Controle da inflação

A estagflação consiste no aumento generalizado dos preços, ao mesmo tempo em que a riqueza da economia, o PIB, não cresce. E com o aumento dos preços, o Banco Central dos países têm duas formas de agir.

Para cenários de inflação alta, aumenta-se a taxa de juros, desestimula a economia, que começa a frear e os preços gradativamente caem, voltando aos patamares iniciais. Com isso, o crescimento do país diminui, ao mesmo tempo em que a inflação também.

Por outro lado, quando uma economia está com baixo crescimento, o Banco Central baixa as taxas de juros, estimula o crédito (empréstimos e financiamentos), e gradativamente volta a recuperar a economia. Com essa medida, o PIB tende a aumentar, junto com a inflação.

E o que fazer quando temos inflação alta e baixo crescimento ao mesmo tempo? Calma!

Contas do governo

Quando um governo vai bem, os investidores tendem a buscar o país para fazer seus aportes e lucrar com aquela economia. Isso não acontece em fenômenos de estagflação e tem um motivo.

Se as contas fecham no verde, ou seja, o país arrecada mais que gasta, o governo pode tomar menos empréstimos. Com isso, ele tem a liberdade de pagar menos para os investidores, por ser um país mais seguro.

Por outro lado, quando o país passa por dificuldades econômicas, os investidores querem retornos maiores, dado que fica mais arriscado colocar dinheiro naquela economia. Esse, por exemplo, é o cenário atual do Brasil, com inflação alta e taxa selic aumentando gradativamente.

Assim, se a economia vai mal e o governo precisa pagar taxas maiores, as contas do governo não fecharão, ficando no negativo. E isso gera um efeito bola de neve.

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Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Crédito: Getty Images / BBC News Brasil

O cenário atual

O Brasil atual pode estar diante de uma estagflação: IPCA acima dos 10%, perspectivas de 1,57% para o PIB em 2022 e as contas do governo fechando no vermelho e quase sem solução.

Esse fenômeno é uma anomalia da economia e não é de fácil resolução. Se o BC aumenta a Selic para conter a inflação, o PIB cai mais ainda. Se tenta intervir no PIB diminuindo a Selic, a inflação corrói o poder de compra da população. E em nenhum dos casos soluciona-se as contas do governo. O que fazer então?

Quem souber essa resposta, pode se candidatar ao cargo de ministro da economia! Mas brincadeiras à parte, alguns economistas acreditam que ainda é cedo para dizer que estamos nesse cenário. Pessoalmente, também acredito nisso.

Outro fato é que o mundo todo parece estar passando pela mesma situação. A crise energética, o choque na oferta e a intervenção dos governos de forma demasiada estão atrapalhando o rumo correto da economia.

Ainda é preciso tempo para dar esse diagnóstico.

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