Como a alta da taxa Selic mexe com a economia brasileira?
A economia brasileira vai perder um importante motor de ajuda ao seu crescimento. Com a escalada da inflação e a sinalização do Banco Central de que aumentos mais intensos da taxa básica de juros (Selic) devem ocorrer, a política monetária deixará de ter um papel no estímulo à atividade econômica.
No cenário dos economistas, uma das explicações para a redução no ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deste para o próximo ano vem justamente do aumento da Selic.
No relatório Focus, do Banco Central, que colhe a estimativa dos analistas semanalmente, os economistas consultados estimam que a taxa básica de juros deve encerrar este ano em 7,5%, acima dos atuais 6,25%, e vai chegar a 8,75% ao final de 2022. Já as projeções para o PIB estão em 4,97% e 1,4%, respectivamente. Portanto, trata-se de uma boa desaceleração de um ano para o outro.
Juros baixos contribuem para um crédito mais barato, favorecendo, por exemplo, a tomada de recursos para o investimento das empresas e para o consumo das famílias.
Quando a inflação aumenta, como é o cenário atual, o BC utiliza a política monetária – sobe a Selic – para encarecer o custo do crédito e, assim, ‘esfriar’ a economia e, consequentemente, controlar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – no acumulado de 12 meses até setembro, a alta é de 10,25%.
Fim do juro neutro
A política monetária deixa de contribuir com a atividade econômica quando o país alcança o chamando juro neutro – aquele que não estimula nem contrai a economia. Esse número varia entre os cálculos dos analistas, mas há um consenso de que essa taxa está próxima do patamar de 6,5%.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic subiu de 5,25% para 6,25%, e o BC indicou que esse ciclo de alta dos juros pode ser maior.
O tom mais duro do Banco Central já tem a ver com a inflação do próximo ano. A preocupação é que as expectativas de 2022 desancorem – a previsão para o IPCA é de 4,4%, segundo o Focus. Para 2021, a inflação deve estourar, com folga, o teto da meta do governo. O IPCA, segundo projeção do Focus, deve encerrar este ano em 8,96% – o teto é de 5,25%.