Problemas fiscais do Brasil aumentam juros futuros
A fala do líder da Câmara, Ricardo Barros, ao Valor Econômico provocou uma alta dos juros futuros. Esse indicador é um termômetro do mercado para saber como os investidores analisam o futuro do país. Atualmente, as taxas esperadas para 2023, 2024 e 2025 estão acima dos dois dígitos, o que não é um bom sinal.
Além disso, essa sinalização do mercado pode ser um entrave para o Banco Central. À medida em que o governo tenta controlar a inflação, a alta dos juros futuros mostra que o Brasil precisará bem mais que isso para satisfazer os desejos dos grandes investidores internacionais. Com isso, a tendência segue de uma economia lenta, com baixo crescimento, o que reflete diretamente na bolsa de valores brasileira.
O teto de gastos e os juros
A atual gestão do país não está alinhada com as necessidades do mercado, afirmam analistas. Isso porque a PEC dos Precatórios e o Auxílio Brasil demandaram um grande esforço dos apoiadores do presidente, o que, no final das contas, elevou a incerteza sobre o Brasil e também colocou em xeque a austeridade fiscal. Em suma, o mercado acredita que o Brasil terá problemas financeiros ainda esse ano.
Não bastasse isso, o mercado ainda reagiu negativamente às falas de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara. Isso porque ele falou nesta terça-feira (04) ao Valor Econômico que o teto de gastos precisa ser revisto. A ideia, para ele, é que há espaço para crescer mais ainda os valores permitidos, o que pode impactar na inflação. O IPCA brasileiro é, até o momento, o mais alto desde 2015.
Por isso, o mercado acredita no contrário: é hora de diminuir os gastos públicos. Contudo, as falas do líder do governo na Câmara mostram que há uma tendência a aumentar as despesas públicas, nomeadamente dando reajuste a todos os servidores públicos.
Com isso, os players do mercado subiram os juros futuros. Nas negociações, os juros futuros para 2023, 2024, 2025 e 2027 estão, todos, acima dos 10%. E isso não é um bom recado.
O que significa os juros futuros?
Os juros futuros indicam qual a taxa que o mercado prevê para a economia em certo ano. Apesar de ainda estarmos longe de 2023, 2024, 2025 e 2027, as atuais tendências mostram um ceticismo do mercado internacional com a economia brasileira.
Nesta terça, durante o pregão, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 11,80% para 12,02%; a do DI para janeiro de 2024 escalava de 11,12% para 11,47%; a do contrato para janeiro de 2025 saltava de 10,82% para 11,13%; e a do DI para janeiro de 2027 disparava de 10,83% para 11,09%. Todas as taxas, que já eram maiores que a atual Selic, subiram ainda mais, mostrando uma insatisfação dos investidores internacionais com a política monetária brasileira.
Agora, analistas afirmam que o governo precisa dar um recado claro de que vai diminuir suas despesas. Isso porque os novos gastos promovidos pela equipe de Bolsonaro estão levando o mercado a acreditar que o governo beira o populismo. Apesar disso, o atual presidente perde em todas as pesquisas eleitorais, o que faz parecer que usará de mais reajustes para buscar novos votos. Dessa forma, o mercado precificará os ativos ainda mais abaixo do nível que está hoje, o que faz a bolsa cair e os investimentos ficarem ainda piores por aqui.