Endividamento afeta a saúde mental dos brasileiros

O endividamento das famílias brasileiras tem se tornado uma questão persistente e está progressivamente alcançando um número maior de residências em todas as regiões do país.

O endividamento é uma questão financeira que alcançou muitas pessoas no Brasil, causando uma série de problemas que vão além do puramente monetário. Essa questão complexa, quando se torna excessiva, pode se transformar em um tormento emocional, resultando em condições adversas de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão.

Segundo estudos conduzidos por entidades bancárias e agências governamentais, o endividamento figura como uma das maiores fontes de inquietação para os cidadãos brasileiros, uma situação que tende a se intensificar em tempos de instabilidade econômica.

endividamento e a saúde mental

Conforme dados publicados pelo Banco Central (BC), 28,7% do rendimento das famílias brasileiras é empregado no pagamento de dívidas. Frequentemente, o endividamento tem início com aquisições de pequeno valor no cartão de crédito ou com empréstimos pessoais destinados a custear despesas imprevistas. Contudo, na ausência de um planejamento financeiro eficaz, essas obrigações podem se multiplicar rapidamente e converter-se em uma carga insustentável.

No espaço de um ano, o grau de endividamento das famílias brasileiras registrou um crescimento de 7 pontos percentuais, atingindo um patamar inédito na história.

A Conexão entre Endividamento e Saúde Mental

Diversos estudos têm mostrado que existe uma ligação forte entre endividamento e problemas de saúde mental.

Segundo a pesquisa mais recente realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o índice de famílias brasileiras endividadas alcançou a marca expressiva de 79,3% do total de domicílios no país. O estudo, elaborado pelo Instituto Opinion Box, revela que 83% das pessoas endividadas experimentam insônia devido à preocupação com as dívidas, enquanto 74% enfrentam problemas de concentração.

Com isso, também houve um aumento no numero de atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial. Entre os fatores que justificam a procura estão violência doméstica, desemprego e endividamento.

Uma pessoa endividada está mais propensa a desenvolver condições como ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e, em casos extremos, até suicídio.

A dívida não é apenas uma carga financeira; é também uma carga emocional e psicológica significativa.

Endividamento e ansiedade muitas vezes caminham lado a lado. Quando as dívidas começam a se acumular, pode-se sentir um medo constante e avassalador de não ser capaz de quitá-las. Esse medo pode se transformar em ansiedade crônica, afetando a capacidade de uma pessoa funcionar adequadamente em seu cotidiano.

A depressão é outra condição que tem uma forte ligação com o endividamento. Quando uma pessoa se vê afundada em dívidas, pode começar a sentir-se impotente e sem esperança, dois sintomas comuns de depressão. A constante preocupação com o dinheiro e a incapacidade de ver uma saída podem levar a um ciclo de pensamentos negativos e comportamentos depressivos.

Estresse Financeiro e Saúde Mental

O estresse financeiro é uma fonte significativa de angústia emocional. Preocupações constantes sobre como pagar contas, como economizar para o futuro ou como evitar a acumulação de mais dívidas podem resultar em estresse crônico, que por sua vez pode desencadear uma variedade de problemas de saúde mental.

Estudos mostram que pessoas com altos níveis de estresse financeiro são mais propensas a desenvolver problemas de saúde mental. Além disso, o estresse financeiro pode ser particularmente prejudicial porque muitas vezes é um estresse de longo prazo. Ele não desaparece quando a fonte do estresse é removida; ao contrário, tende a persistir e a se acumular ao longo do tempo, à medida que as dívidas continuam a crescer.

O estresse financeiro também pode afetar a saúde mental indiretamente, levando a comportamentos prejudiciais à saúde.

Por exemplo, uma pessoa sob estresse financeiro pode começar a negligenciar sua própria saúde física, pulando consultas médicas ou não aderindo a medicamentos devido ao custo.

Isso, por sua vez, pode levar a problemas de saúde física, que podem agravar ainda mais os problemas de saúde mental.

Caminhos de Intervenção

A ligação entre endividamento e saúde mental sugere que é fundamental abordar ambos os aspectos simultaneamente para alcançar um resultado efetivo.

É essencial ter um enfoque holístico que aborde as causas e os sintomas do endividamento e dos problemas de saúde mental, o que exige a colaboração entre especialistas financeiros e de saúde mental.

Estratégias de Autocuidado e Gestão do Estresse

Pessoas com dívidas podem empregar várias estratégias para mitigar o impacto do estresse financeiro na saúde mental. Primeiramente, exercícios físicos regulares podem ser extremamente benéficos, pois ajudam a liberar endorfinas, conhecidas como hormônios da felicidade, e a reduzir os níveis de estresse.

A meditação e a atenção plena também podem ser úteis para gerenciar a ansiedade e a depressão relacionadas às dívidas. Elas ajudam a focar o presente, reduzindo a preocupação com o futuro e os problemas financeiros.

Finalmente, manter uma dieta saudável e um padrão de sono regular podem ajudar a melhorar o bem-estar geral e a resiliência ao estresse.

Intervenções Profissionais

Embora as estratégias de autocuidado sejam importantes, é vital procurar ajuda profissional quando o endividamento e seus efeitos na saúde mental se tornam excessivos. Terapeutas e conselheiros financeiros podem fornecer suporte valioso.

Os terapeutas podem ensinar técnicas de gestão de estresse e fornecer um espaço seguro para discutir preocupações e medos. Além disso, eles podem ajudar a lidar com os sintomas de condições de saúde mental, como ansiedade e depressão.

Os conselheiros financeiros, por outro lado, podem ajudar a criar um plano de pagamento de dívidas viável, aconselhar sobre maneiras de economizar dinheiro e a desenvolver habilidades de gerenciamento financeiro. Além disso, eles podem orientar sobre direitos e opções legais em relação às dívidas, o que pode aliviar parte do estresse financeiro.

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Políticas Públicas e Prevenção

Reconhecer a conexão entre saúde mental e endividamento implica a necessidade de políticas públicas que abordem essas questões de forma conjunta. Isso pode incluir medidas como acesso gratuito ou de baixo custo a serviços de saúde mental, programas de educação financeira e reformas nas práticas de empréstimo e cobrança de dívidas para proteger os indivíduos mais vulneráveis.

Conclusão

A relação entre endividamento e saúde mental é complexa e multidimensional.

Embora o endividamento possa levar a problemas de saúde mental, estes, por sua vez, podem tornar mais difícil para uma pessoa gerenciar suas dívidas. Isso cria um ciclo vicioso que pode ser difícil de quebrar.

No entanto, reconhecer e entender essa ligação é o primeiro passo para enfrentar efetivamente esses problemas. Com a combinação certa de autocuidado, assistência profissional e políticas de apoio, é possível romper esse ciclo e ajudar as pessoas a alcançarem a saúde mental e a estabilidade financeira.

O endividamento não é apenas uma questão de dinheiro. É uma questão de bem-estar, dignidade e qualidade de vida. Abordar o endividamento e a saúde mental juntos é crucial para a construção de sociedades mais saudáveis, justas e resilientes.

Não só devemos nos esforçar para ajudar as pessoas a se livrarem das dívidas, mas também precisamos garantir que elas tenham os recursos e o apoio necessários para lidar com o estresse e a ansiedade que podem surgir como resultado.

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