A caderneta de poupança tem sido, ao longo da história, a opção favorita de muitos brasileiros. Afinal, por anos, funcionou como uma maneira de proteger o dinheiro frente à hiperinflação no país.

Mesmo após a mudança de moeda na década de 1990, a população seguiu investindo na poupança, pois a considerava uma aplicação segura e conveniente. Porém, essa realidade está se transformando.

Saldo Negativo na Poupança

Em abril deste ano, a caderneta de poupança registrou um saldo negativo de R$ 6,3 bilhões. Isso significa que o volume de saques excedeu consideravelmente as captações na caderneta durante o quarto mês de 2023.

Segundo o Banco Central (BC), responsável pela divulgação das informações, os dados registrados em abril foram os seguintes:

• Saques totalizaram R$ 295,52 bilhões;
• Depósitos somaram R$ 289,27 bilhões.

Na prática, as retiradas superaram os depósitos realizados.

É a primeira vez que esse fenômeno acontece nos 28 anos em que a instituição acompanha esses dados. E o Banco Central oferece algumas razões para tal ocorrência.

Em síntese, os brasileiros realizaram saques bastante expressivos da poupança em abril. Os depósitos também foram relevantes, porém não superaram o valor das retiradas.

No entanto, é importante ressaltar que, em comparação a abril de 2022, o resultado foi um pouco menos acentuado.

Isso ocorre porque, no quarto mês do ano anterior, as saídas líquidas de recursos da poupança somaram R$ 9,87 bilhões, ou seja, houve uma redução de 36,7% do montante financeiro retirado.

Na verdade, todos os meses de 2023 exibiram um volume de saques maior que o de depósitos.

Veja a seguir o montante de retirada da poupança em cada mês de 2023:

• Janeiro: R$ 33,63 bilhões;
• Fevereiro: R$ 11,52 bilhões;
• Março: R$ 6,08 bilhões;
• Abril: R$ 6,25 bilhões.

Prossiga com a leitura deste artigo para compreender por que os brasileiros estão retirando recursos da conta poupança.

Retiradas da Conta Poupança Atingem Níveis Inéditos

Primeiramente, é fundamental esclarecer o que é a conta poupança. Como mencionado anteriormente, essa modalidade é a favorita dos brasileiros para acumular recursos.

Durante anos, preservou o dinheiro da população contra a inflação. Posteriormente, as pessoas seguiram depositando na caderneta por considerá-la a maneira mais segura de guardar dinheiro.

Até que chegamos ao cenário atual, onde as fintechs oferecem rendimentos superiores aos da tradicional caderneta.

Enquanto os brasileiros mais experientes tendem a abrir uma conta poupança, os mais jovens geralmente criam contas em bancos digitais e escolhem investimentos com rentabilidade superior à poupança.

Portanto, é esperado que o volume de depósitos diminua, uma vez que há mais opções disponíveis no mercado. No entanto, isso não explica o aumento no número de saques.

O Banco Central apresenta duas justificativas para esse fenômeno. Em primeiro lugar, os brasileiros geralmente enfrentam mais despesas no início do ano.

Sendo assim, nos primeiros meses, é comum que ocorram muitos saques. Há o pagamento de impostos como o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), além das despesas com festas de fim de ano, viagens de férias, material e matrícula escolar.

Portanto, o começo do ano é caracterizado por uma série de gastos adicionais, que afetam o orçamento familiar.

Desse modo, é compreensível que as famílias recorram à conta poupança.

Em especial no ano de 2023, há outro fator que contribui para o recorde de retiradas. Após anos de isolamento devido à pandemia, as atividades retomaram à normalidade.

Contudo, a economia do país ainda se encontra estagnada, levando muitas famílias ao endividamento.

Aproximadamente 80% das famílias enfrentam endividamento

O Banco Central informa que cerca de 80% das famílias brasileiras estão endividadas. Como mencionado anteriormente, a economia do país ainda enfrenta as repercussões da crise sanitária provocada pela Covid-19.

Assim, muitas pessoas recorrem à conta poupança para saldar suas dívidas. Em diversos casos, as famílias perderam suas fontes de renda e precisam utilizar a reserva emergencial.

A instituição acredita que, ao longo dos meses, o número de depósitos possa ultrapassar o de saques.

Rentabilidade da Caderneta de Poupança

Nos últimos anos, a caderneta de poupança deixou de ser sinônimo de rentabilidade. Em síntese, a aplicação financeira mais tradicional do país apresentou resultados negativos entre 2019 e 2021, ficando atrás da inflação.

Entretanto, em 2022, a poupança voltou a superar a inflação, registrando rentabilidade de 2%, já descontado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que se refere ao aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços, a temida inflação.

Por essa razão, muitos brasileiros que desejam investir estão abandonando a caderneta de poupança. Os juros elevados no país até aumentam o rendimento dos ativos de renda fixa, como a poupança, mas existem outros ativos que oferecem retorno bem superior à caderneta.

Segundo um levantamento realizado por Einar Rivero, da consultoria TradeMap, o retorno financeiro líquido de alguns investimentos superou o da poupança em 2022:

• IHFA: 7,45%;
• IDIV: 6,49%;
• CDI: 6,24%;
• Ima Geral: 3,66%;
• Poupança: 2,00%.

Por último, é importante destacar que o IHFA, que apresentou a maior rentabilidade em 2022, é um índice do mercado financeiro que calcula a média do desempenho dos fundos de investimento multimercado. As outras três opções fazem parte do grupo das 13 principais aplicações financeiras do país, cuja maioria ficou abaixo da inflação.