Bolsonaro depõe à justiça no caso da PF

O caso da suposta intervenção de Bolsonaro no comando da Polícia Federal teve mais um desdobramento na noite de ontem, 03. Em depoimento presencial, Bolsonaro negou interferência política e acusou Sérgio Moro de negociar cargos.

O presidente falou explicitamente que pediu que o ex-ministro trocasse o comando, mas refutou a ideia de que seria uma manobra política.

O que falou Bolsonaro

No âmbito do inquérito que o investiga sobre supostas interferências na Política Federal, Bolsonaro depôs na noite de ontem no Palácio do Planalto. Em suas falas, disse que não teve intenções políticas nem pessoais de trocar o comando da PF, mas admitiu que pediu.

Segundo ele, ‘jamais teve a intenção’ de interferir no comando da autarquia ao pedir para Sérgio Moro, então ministro, a troca dos cargos de diretoria-geral e nas superintendências da PF. Além desses cargos, Bolsonaro afirmou que pediu a troca do delegado Maurício Valeixo por “falta de interlocução”.

Além disso, Bolsonaro afirmou que, ao pedir essas mudanças, Moro exigiu que o presidente o colocasse no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, o ex-juiz teria concordado em fazer a troca, colocando Alexandre Ramagem, apenas após o presidente indicá-lo à cadeira. Como se sabe, o presidente colou André Nunes Marques, pois Moro deixou o governo antes de ser indicado. E é exatamente esse fato que levanta suspeitas da oposição.

Em uma nota lançada à imprensa, Moro disse que não troca “princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como Ministro”. Vale lembrar que agora Moro ganha força como a terceira via, mesmo que ainda falte tempo para as eleições de fato.

Nesse inquérito, Bolsonaro ou Moro sairá prejudicado. Isso porque ou Bolsonaro de fato cometeu crimes ou, por outro lado, Moro teria prevaricado. Com isso, a oposição a Bolsonaro acredita que esse processo pode ser uma premissa forte de impeachment para o presidente. Isso porque a oposição precisa de algo indubitável frente aos mais de 130 pedidos de desligamento de Bolsonaro.

Bolsonaro Moro PF
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A polêmica e a fala da oposição

A oposição atacou Bolsonaro, dizendo que se trata de mais uma inverdade dita pelo presidente. Segundo eles, não faz sentido o que Bolsonaro disse, pois a troca de cargo na PF, dadas as condições ditas pelo presidente, seriam favoráveis a ambos.

Isso porque Bolsonaro ganharia o apoio do comandante da PF, que seria Ramagem. Por outro lado, Moro receberia a indicação ao STF, um dos seus maiores sonhos, acredita-se. Com isso, não faria sentido Moro falar abertamente sobre a suposta interferência, em uma entrevista que gerou fortes impactos.

Isso porque no dia 24 de abril de 2020, data da saída de Moro, o Ibovespa fechou em fortíssima baixa de 5,60%. À época, a queda do “superministro” representava uma das maiores instabilidades, até então, da atual gestão. Depois do pedido para sair, a popularidade do governo também não ficou satisfatória.

Moro era visto como a maior figura anticorrupção do país até a data. Posteriormente, o STF anulou provas da Lava Jato contra Lula, desmontando a operação. Agora, Moro é forte candidato da terceira via para 2022, com a maior aprovação, fora Lula e Bolsonaro.

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