Vendas no varejo brasileiro CAEM em dezembro, mas fecham ano em ALTA

O volume de vendas no varejo brasileiro encolheu 2,6% em dezembro de 2022, na comparação com o mês anterior. O recuo foi o segundo consecutivo, interrompendo uma sequência de três aumentos, que vinham deixando o mercado feliz por visualizar uma recuperação gradual do varejo brasileiro.

De acordo com analistas, a queda nas vendas do comércio varejista pode ter acontecido por causa da política monetária adotada no país. Aliás, a queda foi bastante disseminada em dezembro, atingindo sete das oito atividades pesquisadas. Confira abaixo as variações registradas em relação a novembro:

Livros, jornais, revistas e papelaria (+0,1%);
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,4%);
Equipamentos e material material para escritório, informática e comunicação (-0,6%);
Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,8%);
Móveis e eletrodomésticos (-1,6%);
Combustíveis e lubrificantes (-1,6%);
Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,9%);
Tecidos, vestuários e calçados (-6,1%).

O único resultado positivo mensal veio de livros, jornais e afins, mas a alta foi bastante tímida. Em resumo, o setor sofreu fortes perdas nos últimos anos, mas a melhora do quadro sanitário no Brasil está ajudando a aumentar as vendas do grupo.

As vendas de livros, jornais, revistas e papelarias também cresceu em relação a dezembro de 2021 (+0,3%) e no acumulado de 2022 (+14,8%), sendo a segunda maior taxa entre as oito atividades pesquisadas. Inclusive, a atividade não registrava crescimento das vendas, em relação ao ano anterior, desde 2013.

“É um setor que acumula perdas ao longo dos anos, por causa do esvaziamento das lojas físicas, já que muitas pessoas deixaram de comprar produtos físicos dessa natureza. O que explica esse crescimento no ano é a venda de materiais didáticos em um momento de volta às salas de aula de forma presencial”, explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.

A saber, os dados fazem parte da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Vendas em supermercados crescem pouco

De acordo com o IBGE, as vendas no setor de hiper e supermercados recuaram em dezembro. No entanto, a atividade fechou o ano com um crescimento de 1,4% em comparação com 2021, mesmo estando no campo negativo há dois meses. E a alta pode ser explicada pela base comparativa fraca, visto que, em 2021, as vendas caíram 2,6%.

“Em 2022, tivemos o efeito da inflação elevada sobretudo em alimentos, o que favorece mais esse setor que outros, já que muitos deixam de consumir outro tipo de produto para continuar comprando esses itens básicos, ainda que reduzam o dispêndio de forma geral”, informou o gerente da pesquisa.

“No último trimestre, tivemos também o efeito do aumento do Auxílio Brasil, alcançando as famílias de menor renda que tendem a usar o valor do benefício em hiper e supermercados”, acrescentou.

Ainda assim, o crescimento não foi muito expressivo por causa das dificuldades do aperto monetário imposto pelo Banco Central (BC). Em suma, quanto mais altos os juros estiverem no Brasil, mais corroída fica a renda da população. E o principal efeito desse cenário é a redução do consumo.

Juros no Brasil são os maiores em seis anos

No início deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve pela quarta vez consecutiva a taxa Selic estável em 13,75% ao ano.

Com isso, a taxa, que corresponde ao juro básico da economia brasileira, permaneceu no maior patamar desde novembro de 2016 (14,00% ao ano). E essa decisão já foi criticada de maneira firme pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A propósito, a Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta dos preços de bens e serviços, a temida inflação. Quanto mais alta a Selic estiver, mais altos ficarão os juros no país. Assim, o crédito fica mais caro, reduzindo o poder de compra do consumidor e desaquecendo a economia.

Essa medida é bastante eficaz para a limitação da inflação no país. Por outro lado, os efeitos atingem mais fortemente as famílias de renda mais baixa. E diversos analistas vêm alertando para as restrições que estes brasileiros estão enfrentando.

“As vendas reais das atividades mais sensíveis ao crédito provavelmente estarão em território negativo, refletindo condições financeiras ainda mais apertadas, alto índice de serviço da dívida das famílias e maior percepção de risco no ambiente econômico”, projeta a XP para o comércio brasileiro em 2023.

“Por outro lado, as vendas reais das atividades mais sensíveis à renda devem apresentar uma trajetória de crescimento modesta, em nossa visão”, disse em sua análise.

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