Auxílio Brasil não acabou com a fome no Brasil, diz Rede Penssan
O Auxílio Brasil do Governo Federal é um programa de assistência social que atende mais de 20 milhões de brasileiros, que recebem um pagamento mínimo de R$ 600 por mês. Embora o projeto atinja recordes no número de atendidos, o aumento da miséria nos permite dizer que o benefício, por si só, não é capaz de acabar com a fome no país.
É o que dizem os dados de novas pesquisas divulgadas pela Rede Penssan. De acordo com o levantamento, 75% dos brasileiros que recebem uma renda per capita de até meio salário mínimo (R$ 606) estão atualmente em situação de insegurança alimentar. Parte deste público recebe o dinheiro do Auxílio Brasil, e outra parte nem consegue entrar.
Segundo análises dos gerentes da Rede, um dos motivos para a falta de efetividade do programa, seria a ausência de uma focalização do público do Auxílio. Hoje, o benefício social do Governo Federal não faz nenhum tipo de diferenciação sobre o número de integrantes de uma família. Uma pessoa que mora sozinha recebe R$ 600. Uma família com 10 cidadãos, também.
No final das contas, a balança pesa mais para as famílias mais numerosas. Contudo, este não seria o único motivo. Integrantes da Rede Penssan também afirmam que há um impacto do aumento da inflação sobre os alimentos. O Auxílio Brasil pode ter subido de valor, mas o preço da feira da semana também está maior, e isto tem um impacto negativo nas contas.
“Os R$ 600, mesmo para a baixa renda com insegurança alimentar, são diluídos. Há o endividamento das famílias pobres com coisas básicas, com vizinho, com parente, a conta da água, do gás, da luz, do aluguel, as dificuldades para pagar o transporte para o trabalho. O alimento acaba sendo a segunda, terceira ou quarta prioridade”, disse Ana Segall, pesquisadora da Rede.
Além do Auxílio
Os pesquisadores também afirmam que a luta contra a fome no país não deve envolver apenas o pagamento do programa Auxílio Brasil. De acordo com a análise deles, o Governo também precisa se preocupar com outras questões.
Um dos pontos, por exemplo, é a situação do endividamento das famílias. Quando estes brasileiros recebem alguma ajuda financeira, eles acabam tendo que gastar com as dívidas. Eles também defendem uma preocupação maior com o salário mínimo.
“É preciso valorizar o salário mínimo, voltar com o programa de apoio à agricultura familiar, extensão do acesso à água no semiárido. Retomar ações mais específicas, voltadas para a população mais vulnerável”, disse Renato Maluf, um dos gerentes da Rede.
Bolsonaro
Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro polemizou ao dizer que não acredita nos dados e que não existe fome no Brasil. Entre outros pontos, ele disse que ninguém vê pessoas pedindo comida na padaria.
“Se for a qualquer padaria aqui, não tem ninguém pedindo ali pedindo para você comprar o pão para ele, isso não existe. Eu falando isso estou perdendo votos, mas a verdade é que você não pode deixar de dizer”, disse o presidente.
“Quem porventura está no mapa da fome, pode se cadastrar e vai receber, não tem fila o Auxilio Brasil. São 20 milhões de famílias que ganham isso aí”, completou Bolsonaro durante entrevista para um podcast no final do mês de agosto.